quarta-feira, 25 de setembro de 2013

E aí? Onde você escondeu sua fé?

Hoje a tardinha eu sentei e pensei; é, as vezes tenho esses vislumbres... Mas meus pensamentos são um pouco diferentes, chegam a incomodar, por isso os guardo para mim. Sei quando sou bem vinda, quando minhas ideias são bem aceitas, mas geralmente não são, e já me acostumei. Não, por favor, não pense que sou algum tipo de jovem que precisa urgentemente de um divã e um bom psicanalista, não, eu não. Talvez até uma xícara de café, quem sabe. As vezes penso sobre algo que eu nunca tinha pensado. Sabe como é!? É como se seus pensamentos tivessem passe livre. E hoje não foi diferente. 
   Não que eu tenha tido uma infância frustrada e sem catecismo, pelo contrário, fui criada no seio da igreja, sentei nos primeiros bancos da assembléia e fui apaixonada pelo padre, mas quem nunca foi? Hoje vi duas ou três senhoras sentadas em um banco da praça, cada uma com um rosário na mão e lágrimas nos olhos; uma típica imagem de fim de tarde, quando o sol começa a se por. Mas não, não me emocionei. Havia todo um cenário: um céu alaranjado pelos últimos raios de sol, as primeiras folhas secas caídas no chão anunciavam o outono, o vento gélido anunciava a chegada da noite, e ainda assim, com esse cenário de pintura grega, fui incapaz de me emocionar.
   Veja bem, não me sinto em posição de julgar a fé de ninguém, mas não vejo mais em altares e oferendas o verdadeiro Deus. Posso ver até nos interlúdios do teatro, mas não mais em templos. Já não há em mim a necessidade de acreditar em algo novo toda semana; sou cética, como dizem alguns, ou não. Propagandas do tipo "Onde está a sua fé?" já não me despertam interesse. Sei exatamente onde está a minha fé, e não é em nenhum seminarista contrariado ou diáconos benevolentes que vivem do meu dízimo. Não! Senhoras com os olhos umedecidos e lábios trêmulos não fazem mais sentido. 
   Chega de superficialismo, de rezar o terço três vezes por dia sem prestar atenção nas palavras repetidas, chega de pagar promessa de joelhos quando não é teu coração que pede por isso. Gosto daquele tipo de pessoa que já não se encontra mais em um banco qualquer de jardim. Admiro gente com raça, gente da gente, com carisma, que independem das limitações que a sociedade ergue aos seus pés. Pessoas que oram em silêncio; que acima de tudo, acreditam em si mesmas; que não esperam que o milagre chegue por sedex, mas que vão atrás, vão buscar, seja na esquina ou a milhões de anos luz daqui. 
   Evangélicos que se vestem de anjos têm forte tendência a cometerem o maior escândalo do século. Católicos com crucifixos retorcidos e joelhos calejados não me provocam lágrimas. Felizes os tempos em que o povo gozava de uma verdadeira fé, que a igreja se desprovia de interesses econômicos ou sociais. Em 20 anos, o índice de católicos caiu 18%. A igreja já não apresenta projetos consistentes, iniciativas reais. Alguns pregam a igualdade social, mas o Papa continua ocupado demais bebendo em taças de ouro para enxergar o ser humano à porta do Vaticano pedindo esmola, o jovem drogado na calçada e a criança limpando o vidro do meu carro no sinal. (Dados: IBGE, 2007).
   Não, eu não estou sendo severa demais, ou cética demais, nem mesmo impiedosa. Estou falando com minha razão, aproveitando os raios de sanidade que ainda não foram tirados de mim. Penso cá com meus botões: As pessoas têm plantado o bem? Têm cultivado o bem? Têm dividido esse bem? Não, estão escondidos atrás de uma bíblia que de nada vale se não haver compreensão, entrega, e por ultimo - mas não menos importante - ação. É necessário dar a cara a tapas, crer no impossível, voar sem tirar os pés do chão, é preciso propostas, é preciso ouvir. Hoje em dia, quem fala algo devia ter prioridade. É preciso convencer. Tenho visto, desde que nasci, a fé dos mais carentes, o desprezo dos mais favorecidos, e a indiferença do governo. E falo sem exagerar: sinto meu estômago dar voltas e mais voltas ao cogitar tal ideia.
   Então, eu apago o abaju de luz tênue do meu quarto, acendo o ultimo cigarro, e o vejo se apagando aos poucos sem dar nem mesmo uma única tragada; tal imagem volta a minha mente anos depois, como um daqueles filmes trêmulos da década de 70, e sentada outra vez naquele mesmo jardim que outrora fora ocupado por três senhoras que rezavam com tão pouca devoção, eu vejo a luz do mundo se apagando aos poucos, mas ao contrário daquele meu cigarro de marca barata, o mundo foi tragado uma, duas, três, mil vezes, pela falta de esperança, amor e crença. E aí? Onde você escondeu a sua fé?

Danyella Santos - Colunista Do Site Arca Literária

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